Ciência e perícia: como a Polícia Científica atua em crimes contra o meio ambiente 24/10/2025 - 16:41
Em meio às diversas frentes de atuação da Polícia Científica, um setor cresce na mesma medida em que a pauta ambiental ganha espaço nas discussões públicas: a perícia ambiental. O ramo técnico-científico é responsável por apurar provas de crimes que afetam diretamente o meio ambiente, reunindo indícios, analisando danos e auxiliando na responsabilização dos autores.
“Nosso trabalho busca entender o que causou o impacto, qual foi a extensão do dano, avaliar as consequências para o meio ambiente e determinar a relação entre a ação humana e o dano ambiental”, explica a perita oficial da Polícia Científica do Paraná (PCIPR), Amanda Cristina de Jesus Cunha. “É um tipo de perícia que envolve diversas áreas do conhecimento — como biologia, medicina veterinária, engenharias, química e geologia — e que muitas vezes é realizada em locais amplos ou de difícil acesso, exigindo um planejamento prévio para atendimento da demanda pericial”.
Em outras palavras, o trabalho da perícia ambiental consiste em transformar vestígios deixados na natureza em evidências científicas. Amostras de solo, cinzas ou troncos cortados são analisadas para revelar o impacto das ações humanas sobre o meio ambiente e fornecer subsídios às investigações policiais. Dessa forma, a perícia não apenas busca compreender a extensão dos danos, mas também reforçar a preservação ambiental como uma questão de segurança pública.
Após as análises realizadas em campo, as amostras coletadas são encaminhadas aos laboratórios da Polícia Científica, onde passam por exames químicos e biológicos. O trabalho é semelhante a outras seções, como perícias de local de crime e toxicológica, que também dependem de análises detalhadas. E embora cada área tenha seu método, o objetivo é semelhante: fornecer informações precisas que subsidiem investigações, auxiliem na responsabilização de infratores e fortaleçam a atuação da justiça. Na prática, o laboratório funciona como um elo entre o que é encontrado no campo e a construção de um laudo técnico confiável, capaz de embasar ações judiciais e medidas de preservação ambiental.
UM DOS MAIORES CASOS DO ESTADO — Criada em dezembro de 2019, a seção de perícia ambiental da Polícia Científica do Paraná (PCIPR) já recebeu mais de 1.500 solicitações de exame, atuando em situações de desmatamento, contaminação de recursos hídricos e maus-tratos a animais.
Até então, as perícias ambientais eram realizadas de forma pontual, geralmente por meio de ofícios e sem o acionamento direto de equipes ao local. De modo geral, os atendimentos eram feitos em regime de plantão, com apoio das seções de perícia de local de crime, o que delimitava a capacidade de resposta e detalhamento técnico das análises. Com a estruturação da nova seção, a demanda cresceu consideravelmente, refletindo o fortalecimento da atuação da PCIPR em ocorrências que envolvem danos ao meio ambiente.
Entre os casos mais recentes, destaca-se a análise de uma área de 102 hectares — mais de 142 campos de futebol — próxima à Serra da Boa Esperança, considerada uma das maiores degradações ambientais no estado. O levantamento identificou uso de produtos químicos e incêndios para alterar o território, que inclui uma Área de Preservação Permanente e está a cerca de 1 km de uma unidade de conservação do estado.
“Os danos constatados são considerados de grande gravidade, em razão da extensão da área degradada, da destruição de Áreas de Preservação Permanente (APP) e da afetação de espécies ameaçadas de extinção, como araucária, imbuia, cedro, canela-preta e xaxim. Quando comparado a outros casos recentes no Paraná, este se destaca pelo porte da área atingida, pela diversidade de infrações constatadas e pela proximidade de uma Unidade de Conservação (UC), o que amplia ainda mais sua relevância ambiental”, explica a perita da PCIPR.
As irregularidades ocorriam desde abril de 2018, segundo análises de imagens de drones e satélite que apontaram alterações contínuas na cobertura vegetal. Entre as infrações constatadas, estavam o uso de fogo, produtos químicos, movimentação de solo com animais e empilhamento de toras de espécies nativas, possivelmente destinadas a uso posterior ou comercialização.
“Em uma extensão sem precedentes, o crime surpreende pelo planejamento e astúcia da combinação de várias técnicas, de modo sutil e de longo prazo quando comparada ao mero desmatamento, levando à morte lenta e silenciosa da floresta”, destaca a perita da PCIPR Kelly Cancela. “Ainda há o agravante de dificultar sua percepção pelo monitoramento de imagens que, atualmente, é uma das principais estratégias no enfrentamento de crimes ambientais”.
Ao todo, cinco peritos participaram das análises e da elaboração do laudo, solicitado pelo Batalhão de Polícia Militar Ambiental – Força Verde (BPMAmb-FV) como parte de uma força-tarefa que também contou com a Polícia Civil do Paraná (PCPR) e a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), reunindo subsídios técnicos para os processos nas esferas criminal e administrativa.






















