Peça teatral apresentada por apenados participa do 16º Festival de Teatro de Pinhais 30/10/2023 - 16:45

A peça teatral "Crime e Castigo", realizada com a participação de pessoas privadas de liberdade (PPL) no sistema prisional do Paraná, participou no último domingo (29) do 16º Festival de Teatro de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Baseada na obra do escritor russo Fiódor Dostoiévski, a peça vem conquistando novos palcos pelo Estado.

A equipe de criação da peça conta com os professores e diretores Adauto da Silva e Marco Antônio Garbellini. As professoras Gislaine Rodrigues e Vânia Rossi adaptaram o texto para a apresentação. Duas pessoas privadas de liberdade foram escolhidas para interpretarem papéis principais da peça.

O projeto teve início em maio deste ano, com a montagem da produção e as primeiras apresentações na Casa de Custódia de Maringá (CCM). Posteriormente, a Colônia Penal Industrial de Maringá (CPIM) também foi palco das apresentações. Em junho, ocorreu uma curta temporada no Teatro Barracão, também em Maringá, quando o trabalho foi convidado a participar da Festa Literária Internacional de Maringá (FLIM), no palco Circo Literário, a convite do secretário de cultura de Maringá, Victor Simião. 

Em outubro, o projeto expandiu-se para a cidade de Campo Mourão, na região Centro-Oeste do Estado, onde lotou o Teatro Municipal na última quinta-feira (26). Na sequência, o projeto recebeu convite para participar da mostra profissional no 20º Festival de Teatro de Campo Mourão (FETACAM), realizado entre os dias 18 e 28 de outubro. Esse histórico, repleto de aplausos e elogios, levou à participação do 16º Festival de Teatro de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, realizado neste domingo (29), competindo nas categorias de Melhor Espetáculo, Melhor Direção, Melhor Intérprete e Melhor Técnica (som, luz e cenografia).

O diretor adjunto da Polícia Penal do Paraná (PPPR), Maurício Ferracini, enfatiza a importância da cultura no tratamento penal para a reinserção social. “A Polícia Penal trabalha muito seriamente com as questões de segurança prisional, mas também com os aspectos do tratamento penal humanizado. Esta é a atual formação do policial penal para atuar nestas duas frentes bem definidas. A cultura, a educação e o trabalho são peças fundamentais para que estes indivíduos que estão segregados em nosso sistema prisional estejam preparados, após cumprirem suas reprimendas, para retornar ao meio social”, destaca.

O sucesso do projeto permite que outras unidades prisionais do Estado possam desenvolver atividades semelhantes. O diretor da PPPR observa que a peça "Crime e Castigo" é uma atividade bem estruturada que envolve ativamente o público carcerário como atores principais, e o alcance desse programa se expandiu para outras regiões administrativas da Polícia Penal.

“Este convite para o Festival de Teatro de Pinhais é uma prova de que o trabalho é sério e deve ser visto como um enorme incentivo a cultura, mostrando também que a atenção ao tratamento penal humanizado transforma ambientes e pessoas, apresentando resultados tão importantes como este que estamos vendo”, enfatiza o diretor.

Conforme o chefe da Divisão de Educação e Capacitação da PPPR, Juliano Prestes, o projeto tem como objetivo promover a leitura entre as pessoas privadas de liberdade (PPLs) e fortalecer o programa de remição pela leitura, tendo beneficiado cerca de 700 apenados no Estado.

“A remição pela leitura é uma prática que contribui para a ressocialização, a educação e cultura dos detentos, um grande potencial para impactar positivamente o sistema prisional e a sociedade como um todo”, ressalta.

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cada obra lida corresponde à remição de quatro dias de pena, com um limite de até 12 obras lidas e avaliadas em um período de 12 meses, permitindo uma remissão de até 48 dias por ano.

Dois dos apenados envolvidos na peça representam personagens da obra "Crime e Castigo" e desempenham o papel de contextualizar a relação de Dostoiévski com o sistema prisional e como a trama afeta quem está cumprindo pena em uma penitenciária. Após suas apresentações, há um espaço para discussão e esclarecimento sobre a obra e o processo de montagem da peça.

O primeiro apenado está em regime semiaberto no CPIM e o segundo esteve cumprindo pena na CCM até junho de 2023, quando passou para o monitoramento eletrônico. Ambos descobriram a arte de atuar dentro da CCM sob incentivo dos professores Adauto da Silva e Marco Antônio Garbellini.

De acordo com a equipe criadora do projeto, a qualidade artística, tanto da dramaturgia, quanto da direção do espetáculo, como a execução realizada pelos atores, é outro elemento de encantamento apontado por parte da audiência, durante os debates. Ambos os custodiados se dizem surpresos pela maneira como o projeto vem sendo recebido pela classe teatral e pelo público em geral.

O coordenador regional da PPPR em Maringá, Júlio César Vicente Franco, enfatiza que a missão da Polícia Penal do Paraná é reinserir os indivíduos na sociedade e transformá-los positivamente. “A pena não é mais somente para punir, ela tem que, de alguma forma, transformar o indivíduo, para que ele mude aquela ação que cometeu”, disse.

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