Em primeiro ato católico ao público masculino, Bispo Dom Zico celebra missa no Complexo Médico Penal 22/11/2023 - 16:10

O Complexo Médico Penal (CMP), localizado em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, recebeu na tarde desta segunda-feira (21) a visita do bispo auxiliar da Arquidiocese de Curitiba, Reginei José Modolo, conhecido como Dom Zico, para a celebração de uma missa a um grupo de pessoas privadas de liberdade (PPL). Esta foi a primeira ação religiosa ligada ao catolicismo voltada ao público masculino na unidade, diferente do público feminino que já vinha sendo atendido pela pastoral carcerária e contando com grande adesão das custodiadas participando de várias ações ligadas à religião e espiritualismo. Até então, os homens que estão reclusos na unidade vinham participando de encontros e cultos de outras religiões, quando um dos apenados procurou a Assistência Social do CMP manifestando a necessidade de um evento voltado aos católicos. Após esta primeira procura, foram identificados um total de 16 custodiados que apresentaram o desejo de realizar confissão, comunhão e participação em uma missa.

Um altar foi montado no auditório do complexo para receber a visita de Dom Zico e a celebração contou com a presença de 20 apenados, além de profissionais que atuam na unidade. Durante a missa, alguns dos apenados puderam realizar o ato da comunhão e aqueles que ainda não haviam feito confissões, puderam fazê-las diretamente com o bispo ou, então, com o padre Paulo, que atua na unidade por meio da pastoral carcerária. Esta cerimônia foi um marco para o início das atividades do catolicismo no Complexo Médico Penal e já existem projetos para ações mais constantes de assistência religiosa ligadas ao catolicismo.

“A Polícia Penal do Paraná (PPPR), no que diz respeito ao tratamento da pessoa privada de liberdade, tem uma preocupação e um trabalho desenvolvido em três áreas muito claras. A primeira delas é a educação. A segunda é a laborterapia, que é o trabalho e que apresenta números muito importantes em todo o estado. A terceira é o desenvolvimento dos valores espirituais. Entendemos que esta atenção que está sendo dada aos apenados no CMP desenvolve valores importantes na pessoa e muitas vezes a educação e o trabalho não alcançam áreas tão profundas e importantes como as questões espirituais. A gente agradece a igreja católica que foi até a unidade para realizar uma missa e entendemos que é um caminho importante para a recuperação de uma pessoa privada de liberdade”, destaca o diretor-adjunto da Polícia Penal do Paraná, Maurício Ferracini.

O diretor do CMP, Edwaldo Carvalho, afirma que é uma satisfação para a unidade receber a Igreja Católica, representada nesta ocasião por Dom Zico, promovendo aos apenados um momento bastante especial e que pode gerar grandes resultados individuais e coletivos. “A assistência religiosa no cárcere possui um papel importante na reintegração social das pessoas privadas de liberdade, independentemente da orientação religiosa. Através da assistência religiosa, os presos têm a oportunidade de encontrar conforto espiritual, orientação moral e apoio emocional durante o período de encarceramento, contribuindo para a disciplina no ambiente prisional. O Estado é laico, portanto respeita, protege e trata de forma igual todas as religiões”, destaca.

Para a assistente social do CMP, Maria Helena Mendes, o cárcere em si reforça o apego à espiritualidade e já vem sendo possível perceber uma mudança de comportamento entre os custodiados. Ela afirma que novas missas dentro da unidade estão entre os planos para um futuro próximo. “Eles fazem orações de forma individual, participam de orações com outras denominações religiosas, mas como católicos eles sentiam a necessidade de ter o contexto geral do catolicismo. Temos planos de realizar uma missa mensal e fazer um trabalho com este público semelhante ao que já é realizado com o feminino”, explica.

“O ser humano é uma totalidade. Nós temos várias dimensões da realidade humana. E a dimensão espiritual é importantíssima pois quando bem cuidada afeta todos os outros âmbitos da vida. Além do que, a partir do momento que o apenado vai criando uma identidade com uma comunidade confessional seja ela católica ou outra, quando ele sair deste momento de cárcere ele já terá um grupo a mais para recebê-lo e acolhê-lo do lado de fora e isso se faz necessário. Muitos vínculos são rompidos quando o indivíduo está dentro do sistema prisional e quando ele pode reconstruir estes caminhos e ter uma comunidade, isso também o favorecerá muito pelo lado relacional com o outro e também pelo lado da fé em Deus”, explica o Bispo Dom Zico.

O religioso defende que a fé possui uma função muito importante que deve ser aliada ao tratamento penal: a mudança de pensamento para melhoria do convívio em sociedade, de respeito e amor ao próximo. “Diante de Deus, todo pecador que se arrepende tem a oportunidade de recomeçar. A gente sabe que alguns, diante da sociedade, devem fazer seu processo de reabilitação e preparação para a reintegração social. Dentro deste processo de tomada de consciência e abertura de perspectiva de vida na qual o crime e os atos violentos já não farão mais parte, o elemento religioso e a fé têm um papel muito importante pois os ajuda a aprofundar uma compreensão do outro como alguém a ser respeitado, alguém a ser amado como um irmão”, finaliza.

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